segunda-feira, 19 de julho de 2010

Sangue, giz e reagentes

Sangue, giz e reagentes


Na onda da mídia e com responsabilidade, perito criminal propõe usar as técnicas do seu trabalho diário em sala de aula. Química, biologia e física são acionadas.

Por: Thiago Camelo

Publicado em 07/07/2010
Atualizado em 08/07/2010

Cena: carne de boi é cortada com uma faca em sala de aula. O objetivo: achar o sangue 'da vítima' na 'arma do crime'




Com uma faca na mão e um pedaço de carne de boi na outra, o professor entra em sala, corta o bife com a faca e propõe aos alunos: vamos achar o sangue (invisível) na faca?

É isso mesmo: essa é a descrição de uma aula de verdade.

Vamos em frente, porque a experiência é mais simples do que parece. Para que os alunos resolvam o problema proposto pelo professor, basta que sigam o teste presuntivo de detecção de sangue criado pelo químico Fritz Feigl – o spot test, como é mais conhecido.



– Com um reagente [denominado Kastle-Meyer] e um cotonete metido a besta [swab] é possível detectar o sangue. Há também como detectar há quanto tempo 'o corpo' está morto usando conceitos de troca de calor e termologia da física. Química e biologia também estão envolvidas no processo. Isso é interdisciplinaridade. E o aluno ainda se sente um detetive do CSI [série investigativa que passa na TV].

Quem dá a explicação acima é o biólogo Claudemir Rodrigues. Junto com o químico Edilson Antedomenico, ele escreveu um dos artigos que saíram na última edição da revista Química Nova na Escola.

O texto "A perícia criminal e a interdisciplinaridade no ensino de ciências naturais" [PDF] defende o uso de técnicas de investigação forense em sala de aula.

"Sempre percebi que o interesse dos alunos fica mais aguçado quando trazemos os assuntos midiáticos para dentro da escola"– Sempre percebi que o interesse dos alunos fica mais aguçado quando trazemos os assuntos midiáticos para dentro da escola. E isso tem muito a ver com a interdisciplinaridade [PDF]. Já tinha lido muito em teoria, mas nunca tinha visto isso na prática – conta, por telefone, Claudemir.

O químico, apesar de não dar aula em colégios atualmente, tem boa experiência como professor do ensino médio. Atualmente, os dois autores do artigo trabalham como peritos criminais na Superintendência da Polícia Técnico-Científica do estado de São Paulo.

A mídia por trás da ideia

Não precisa pensar muito. Nos últimos anos, de quantos casos de assassinatos não resolvidos (ou mal resolvidos) você se lembra? Quantos assassinatos, agressões, vítimas e criminosos ilustraram o noticiário? E – sobretudo – quantas vezes se leu e ouviu o termo 'perícia criminal'?

O sinal de alerta de que misturar investigação e ensino poderia dar certo surgiu por acidente. Claudemir dava uma palestra para alunos do ensino médio e, em dado momento, contou que era perito criminal. Os olhos dos alunos brilharam e choveram indagações a respeito da profissão.

Não muito diferente do que aconteceu com este repórter, que, bombardeado atualmente por informações da imprensa sobre pelo menos dois casos ainda sem solução, não se conteve e fez dezenas de perguntas fora do tópico da entrevista para o químico.

– É normal essa curiosidade. Por isso também mantenho um blogue para discutir esses casos mais famosos. Há muita afobação por parte da imprensa na interpretação dos dados que fornecemos.

A TV a serviço do ensino

O artigo defende:

A divulgação de descobertas científicas pela imprensa fornece um grande suporte ao ensino de ciências, sobretudo às disciplinas diretamente relacionadas à inovação divulgada. O exemplo aqui descrito foi da área biológica, mas é possível citar, historicamente, eventos semelhantes em diversas áreas de conhecimento, tais como a descoberta do náilon, na química, e da fissão nuclear, na física.


É bom lembrar que Claudemir tem 28 anos e, como todo jovem, viveu a febre de programas de televisão sobre crime e perícia. Cold Case, Crossing Jordan, entre outros.


– Enquanto me tornava biólogo e perito criminal, percebia que ali, naqueles programas, eram mostradas atividades importantes e que estão no currículo escolar. É possível entreter, despertar a curiosidade e ensinar.


Acesse o vídeo em: http://www.youtube.com/watch?v=VlZxtwb4vbo&feature=player_embedded



Fonte: http://cienciahoje.uol.com.br/alo-professor/intervalo/sangue-giz-e-reagentes

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