quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Erosão costeira

Erosão costeira

A erosão costeira no Nordeste está associada a dois fenômenos com escalas temporais distintas. No curto prazo, a erosão é controlada pelas variações no balanço (acúmulo e retirada) de sedimentos na costa. A retirada de sedimentos depende principalmente do regime de ondas, mas também contribuem para isso a diminuição do volume trazido ao litoral pelos rios e a perda de sedimentos das praias para as dunas costeiras
pela ação dos ventos. No longo prazo, a erosão costeira é controlada pelas variações históricas do nível do mar.

As desembocaduras de rios no mar estão entre as áreas mais afetadas, no curto prazo, por alterações do balanço de sedimentos, composto pela descarga de materiais trazidos pelo rio e, por outro lado, pela ação erosiva de correntes marinhas, marés e ondas. Essa mobilidade natural da foz dos rios é afetada diretamente por alterações de origem humana nas bacias fluviais, como a construção de barragens, e é potencializada, hoje, pelas mudanças climáticas globais. No longo prazo, as alterações devidas às mudanças do nível do mar devem ser preponderantes e podem afetar a região costeira como um todo.

Fotografias aéreas e imagens de satélite, de 1958 a 2001, mostram a variação da desembocadura e do estuário inferior do rio Jaguaribe nesse período. A análise dessas imagens indica que a linha de costa da margem esquerda da foz recuou em média -0,83 m/ano, enquanto na margem direita houve deposição de sedimentos, a uma taxa média de 0,77 m/ano, resultando em erosão média de -0,05 m/ano. Essa tendência erosiva observada na margem esquerda varia ao longo do trecho estudado, devido a fatores como os fluxos d’água (hidrodinâmicos), a natureza das rochas e materiais do solo (geomorfológicos) e atividades humanas. Nessa região, a paisagem costeira está em constante transformação:

  • a foz do rio Jaguaribe é empurrada para leste, provocando erosão na margem esquerda. O fenômeno é comum ao longo do litoral e já afeta áreas urbanizadas.
O movimento das ondas também é um componente importante da erosão costeira. Uma simulação simultânea da magnitude das ondas e do transporte de sedimentos ao longoda costa (devido à inclinação em que as ondas atingem a praia, induzindo um processo chamado de deriva litorânea), serve para identificar as zonas críticas de erosão e em que parte do ano o fenômeno é mais severo. A simulação apontou o trecho do litoral nordestino que apresenta direção sudeste-noroeste (uma pequena parte da costa do Rio Grande do Norte e a maior parte da costa do Ceará) como o mais propenso à erosão no segundo semestre do ano, quando o ângulo em que as ondas incidem na costa é próximo de 45º, gerando maior transporte de sedimentos. Além disso, a intensidade da erosão nessa área é ampliada ainda pela presença, no fundo do mar e perto da costa, de formações rochosas que concentram a energia das ondas sobre o litoral.

As mudanças climáticas globais estão intensificando esse processo de erosão? A resposta depende de um bom conhecimento das taxas de erosão típicas desse trecho do litoral ao longo do tempo. Estudos que abrangem períodos mais longos indicam, para a costa brasileira, uma elevação do nível médio do mar de 4 mm/ano ou 40 cm/século. Esse valor, no entanto, pode apresentar diferenças significativas em alguns locais: no porto de Santos, por exemplo, é de apenas 10 cm/século.

Para o litoral nordeste oriental não há observações em longo prazo do nível médio do mar que apontem uma tendência confiável. Entretanto, considerando as tendências observadas em Recife (50 cm/século) e Belém (40 cm/século), podemos admitir valores entre 40 e 50 cm/século, o que significa uma elevação média anual de 45 mm. Essa subida de 45 cm corresponde a uma retração de 45 m por século da linha de costa (ou seja, uma taxa de erosão de 45 cm/ano).

Além disso, embora os estudos ainda se baseiem em intervalos de tempo mais curtos, observa-se uma tendência de aumento das taxas de erosão. A praia do Icaraí, 20 km ao norte de Fortaleza, é um dos trechos de maior erosão costeira no Ceará. O monitoramento do volume do perfil dessa praia durante cinco anos mostra que, embora este varie bastante nos diferentes meses do estudo, é possívelidentificar uma clara tendência de recuo, nesse caso com perda de volume em torno de 45 m3/ano, o que corresponde atualmente a uma erosão de cerca de 7,8 m/ano.

As mudanças climáticas globais não são a única causa do que ocorre hoje na foz do rio Jaguaribe e no trecho costeiro próximo a ela, mas os três indicadores discutidos sugerem fortemente que essas mudanças vêm contribuindo para potencializar esses efeitos ambientais. Todos os indicadores avaliados apresentam clara intensificação nas últimas décadas. Portanto, é urgente aprimorar os modelos capazes de avaliar e descrever a evolução do cenário ambiental do litoral do Nordeste, com o objetivo de estabelecer programas de adaptação a essas transformações, que permitam minimizar seus impactos sobre a paisagem natural e as populações humanas.

http://cienciahoje.uol.com.br/revista-ch/2010/272/pdf_aberto/mudancasclimaticas272.pdf

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