quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Pode a ovelha Dolly ser considerada um Organismo Geneticamente Modificado (OGM)?

Se entendermos a engenharia genética no seu sentido estrito de “tecnologia do DNA recombinante” – vigente na biologia molecular –, Dolly não pode ser considerada um claro produto da engenharia genética nem um OGM ortodoxo. Isso porque não houve, estritamente falando, alteração – uma recombinação de DNAs diferentes – , mas apenas manipulação, no sentido de uma transferência de um “pacote fechado” de DNA nuclear de uma célula doadora para uma célula receptora (oócito), previamente enucleada (cujo núcleo foi retirado anteriormente), ou seja, sem fusão nem recombinação entre DNAs diferentes.
Existe, no entanto, outras interpretação, que parte de uma distinção entre “ontogenia” e “função”, isto é, entre o que a célula é enquanto ente e sua função (o que ela “faz”) no processo de clonagem.
Nesse caso, enquanto ente, o conjunto formado pelo núcleo da célula diferenciada doadora e o oócito
enucleado receptor talvez não possa ser considerado um OGM. Mas, do ponto de vista funcional, houve manipulação genética de célula germinativa e, portanto, pode também ser considerado, pelo menos funcionalmente, um OGM. É esse desvio de função um dos aspectos mais relevantes da experiênciado embriologista escocês Ian Wilmut e de sua equipe, ao lado do fato de se tratar da clonagem de uma ovelha adulta, sem passar pelo processo de reprodução por fecundação.
[CH 135 – agosto/1997]


Fermin Roland Schramm
ESCOLA NACIONAL DE SAÚDE
PÚBLICA, DA FUNDAÇÃO
INSTITUTO OSWALDO CRUZ
 
 

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